A tragédia no Rio Grande do Sul mudou para sempre a vida de milhares de pessoas e a história do próprio estado. Por mais que as mudanças climáticas estejam cada vez mais perceptíveis – e violentas – ninguém estava preparado para essa catástrofe. Luciano Braga, nosso sócio e diretor de criação, morador de Porto Alegre, relatou que o cenário era de completa desassistência logo após o primeiro temporal.
O poder público não agiu a tempo para evacuar as pessoas, as forças armadas não estavam no local, a prevenção foi zero. Para socorrer a população e garantir uma mínima organização no meio do caos, a sociedade tomou a frente e decidiu se movimentar, criando uma rede densa e diversificada de contatos. Esta edição da news da Ecomunica é dedicada à mobilização coletiva e à comunicação que salva vidas.
A mobilização local
Braga conta que os moradores começaram a se organizar assim que começou a chover. “Onde eu fui e com quem eu conversei, quase todo mundo fazia parte de um grupo ou coletivo em plena atuação. Várias pessoas ofereciam o carro para levar itens arrecadados, faziam marmita pros abrigos, além daquelas que se disponibilizavam para resgatar ilhados. Todos com sua rede próxima e meios que tinham, se organizavam e atuavam em cima de uma demanda”.
Com tanta coisa acontecendo, esses grupos alternativos precisavam levar as informações para algum canal que chegasse ao maior número possível de pessoas – e foi aí que as redes sociais entraram. Grupos no WhatsApp, Telegram e perfis no Instagram se tornaram as principais fontes de informação durante as chuvas, fosse para recrutar voluntários, reunir crianças e pets reencontrados com seus adultos ou organizar donativos.
“Um grupo de amigos se reuniu no WhatsApp para ligar pessoas que pudessem fazer marmitas a quem tivesse fome. Como a iniciativa começou e com quem? Não sabemos, mas hoje o grupo já passa de 100 pessoas, entre donos de restaurantes e quem leva esses alimentos para as vítimas”, explica Braga.
A realidade é que os moradores do Rio Grande do Sul sentiram que se não fizessem algo, ninguém faria e, conforme as demandas foram surgindo, os grupos e páginas nas redes foram sendo criados espontaneamente.
Contrate RS
Um dos exemplos é o Contrate RS, iniciativa criada pela população para tentar mitigar um pouco os efeitos pós-enchentes. Trata-se de uma plataforma que conecta profissionais independentes e empresas da indústria criativa e cultural a contratantes de fora do estado que podem proporcionar oportunidades a esses talentos, estimulando a economia gaúcha e ajudando na retomada do mercado de trabalho.
Voluntário dentro do projeto, Braga conta que o sucesso da plataforma depende, essencialmente, dela alcançar o feed de possíveis contratantes de fora do estado, então é super importante divulgá-la entre contatos e colegas que podem fazer essas conexões.
Rede de colaboração
Além das interações locais, a rede de colaboração se espalhou por todo o Brasil, unindo entidades e empresas que buscavam ajudar de alguma forma. A rede B em ação, por exemplo, liderada pelo Sistema B no Brasil, mobilizou dezenas de empresas e profissionais para desenvolver um plano de ação coletivo. Entre as iniciativas estão:
- Ações emergenciais (doações físicas e financeiras, oferta de voluntários, apoio de serviços médicos e instalação de cisternas e filtros de água)
- Apoio à reconstrução de negócios e ecossistemas
- Políticas públicas e advocacy
- Articulação e mobilização global
Outra forma de contribuir foi apoiando páginas e perfis locais que não puderam ser atualizados, a exemplo da Menos 1 Lixo, principal plataforma de disseminação de práticas sustentáveis do Brasil.
Com alcance médio de 2,5 milhões de pessoas todo mês, o perfil do Instagram interrompeu sua atividade editorial padrão para ser voz ativa frente à catástrofe, focando na promoção de conteúdo relevante sobre a situação, com objetivo de informar, sensibilizar e mobilizar a audiência para as necessidades das regiões afetadas. A Ecomunica então, também parte dessa rede B, passou a apoiar na curadoria e veiculação do conteúdo atual da página.
Cobertura midiática
Frente a todas as mobilizações, especialmente da comunidade local, a própria imprensa tradicional foi pressionada a mudar sua cobertura e dedicar o tempo devido ao tema. Foi o que ocorreu com o Fantástico, criticado por dar mais tempo para a cobertura do show da cantora Madonna no Rio de Janeiro do que para reportagens sobre o que acontecia no estado gaúcho no programa de 5 de maio.
Nos dias seguintes, as principais emissoras de televisão adaptaram suas grades e enviaram centenas de profissionais para cobrir a situação, além de contar com as equipes de jornalismo da região. Jornalistas esses que têm se dedicado dia-a-dia para levar informações em tempo real e manter a população informada de notícias verídicas. Na página do Zero Hora, assim como em diversos outros sites, as atualizações são constantes e ajudam os moradores a se organizar de forma segura.
No fim, sabemos que precisamos inverter a ordem de tragédia = reparação para prevenção = regeneração. A natureza não para de enviar sinais de que precisamos agir imediatamente para mudar a nossa forma de produzir e consumir no mundo (aliás, o intercept publicou uma matéria bem interessante sobre o tema). E nosso trabalho enquanto comunicadores é dar luz a essa urgência.
Aqui há alguns canais gaúchos que estão participando ativamente da reconstrução, em todos os sentidos, do RS.
Meu lar de volta
Plataforma colaborativa para conectar pessoas que vão precisar limpar suas casas com pessoas que podem ajudar nessa limpeza.
Deixa a vírgula
Uma redação formada por jornalistas, publicitários e relações públicas apurando em tempo real os boatos sobre as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul.
Água até aqui
Alerta visual sobre as consequências da crise climática feita por um grupo de publicitários para chamar a atenção de outros estados sobre a crise do RS.