Profissionais da comunidade LGBTQIA+ ainda enfrentam um mercado de trabalho excludente e preconceituoso, que, ou fecha totalmente as portas, ou abre uma fresta, mas sem criar um espaço seguro e propício à permanência.
E eis que chega junho, o Mês do Orgulho. Se o mesmo mercado entender que alguns desses profissionais têm espaço na mídia e milhares de seguidores nas redes, suas caixas de entrada e inbox começam a ficar lotadas. Pipocam mensagens de empresas interessadas,seja para dar palestras, workshops internos, participar de campanhas de mídia ou o que fizer sentido para a data – e, pior, muitas vezes não oferecem qualquer pagamento por isso.
Absurdo, não? Mas é isso que tem se repetido no “mês do orgulho”. Há um ano foi o que aconteceu com o fotógrafo Ryan James Caruthers. Em um desabafo em suas redes, ele contou que foi procurado pelo Unfold, um aplicativo de edição de conteúdo para redes sociais da Squarespace, para usar 12 fotos deles no mês do orgulho. A empresa, porém, não pagaria nada pelo uso das imagens.
Neste ano, a história se repete aqui no Brasil. Dias atrás, o criador de conteúdo Márcio Rolim compartilhou ter passado por uma situação semelhante. Ele foi convidado por uma agência de publicidade para participar de uma campanha interna para o Mês da Diversidade que se aproxima. Em conversas, representantes da empresa informaram logo de cara que ele não receberia um tostão por qualquer ação desenvolvida. “Como assim? Me chamaram para trabalhar de graça?”, desabafou o influenciador digital em seu perfil no LinkedIn.
“É contraditório, para a missão de uma companhia que existe para ajudar pessoas criativas a se destacar e fazer sucesso, lucrar em cima de artistas queer durante o Mês do Orgulho, sem intenção de pagá-los”
– Ryan James Caruthers
Esses casos (que não são isolados e representam algo que pessoas pretas também enfrentam no Dia da Consciência Negra, em novembro) mostram o quanto determinadas marcas e empresas se apropriam de causas em nome do branding e do lucro financeiro. Chamamos isso de Diversity Washing, ou neste caso especificamente de Pinkwashing, prática de marcas que se posicionam a favor do movimento LGBTQIA+ enquanto adotam práticas contrárias, que não estimulam o progresso da comunidade.
Diversidade x Inclusão
A começar, existe uma grande diferença entre diversidade e inclusão. Pouco adianta midiatizar quão diversa é uma marca ou quão diverso é seu quadro de colaboradores e parceiros se nada é feito para, de fato, incluí-los com segurança, suporte e a devida valorização.
Visibilidade por visibilidade esvazia qualquer ação de significado. Ceder espaço para causas realmente importantes para a sociedade, como a inclusão de pessoas LGBTQIA+ nas telas, no mercado e em todos os espaços, é algo urgente e cerne de uma luta secular.
Mas é urgente entender que posicionamento só é sustentado com ações práticas, realizadas de forma genuína, ou então, não vai colar. As pessoas estão cansadas de enfrentar a desvalorização de suas vidas e seus trabalhos, mas prontas para denunciar todo tipo de exploração, como frequentemente temos visto nas redes.
Mudanças para se orgulhar
Como o Márcio compartilhou em seu desabafo, é preciso ir além. Pensar em como promover a inclusão e abraçar a diversidade no mercado de trabalho, remunerando trabalhadores LGBTQIA+ de forma justa, com isonomia salarial, e oferecendo plano de carreira. Da porta para dentro e também para a rua.
Esperamos que essa discussão, que infelizmente ainda precisamos ter, contribua para transformações substanciais, afinal as marcas só têm a ganhar. Do outro lado, as pessoas LGBTQIA+ merecem respeito, inclusão e, claro, receber para trabalhar, seja falando de suas vivências, seja palestrando sobre qualquer outro assunto – no Mês do Orgulho e nos 11 restantes.