Com o avanço (ainda que a passos lentos) da vacinação no País e a perspectiva de um cenário pandêmico mais controlado, o papo da volta ao trabalho presencial começa a ganhar corpo nas empresas. Recentemente, inclusive, servidores públicos de São Paulo e Rio de Janeiro tiveram seu retorno ao trabalho determinado pelos governadores. Mas uma pesquisa feita em maio pela consultoria KPMG, com 361 empresários de todo País, mostrou que 87,3% manterão um sistema híbrido de trabalho presencial e remoto, a partir de 2022. Segundo a pesquisa, possivelmente, esse sistema híbrido contará com mais dias em casa para a maioria das empresas.
Diante desse “novo normal”, diversos desafios se impõem para as marcas, gestores e colaboradores, desde novas formas de se relacionar com os funcionários, passando por métodos alternativos para medir a produtividade, até (e principalmente) a efetividade da comunicação com o time.
Recentemente, a Fundação Dom Cabral (FDC), em conjunto com a Grant Thornton, divulgou um estudo revelando que a dificuldade em se relacionar e de se comunicar com as pessoas da organização em que trabalham são, de fato, dois grandes entraves do regime remoto. Muitas pessoas contratadas durante a pandemia sequer chegaram a conhecer seus gestores ou pares na área de atuação. É inegável que as relações ficam mais impessoais e frias, e a perda do convívio social com grupos e colegas de profissão é um dos principais medos apontados por 20% dos entrevistados.
Ainda nessa pesquisa da FDC com a Grant Thornton, os dados mostram que, para o trabalhador, o home office é como um equilibrista numa corda bamba, que oscila entre a alta produtividade e a preocupação com o próprio bem-estar. O levantamento diz que 35,6% dos entrevistados se sentem mais produtivos trabalhando de casa — 23,2% acham que essa produtividade aumentou significativamente. Em contrapartida, 24% perceberam que, trabalhando de casa, têm volume e horas de trabalho superiores ao presencial.
Ronaldo Loyola, sócio da área de Capital Humano da Grant Thornton Brasil, reforçou a importância de as empresas olharem com atenção para essas duas faces do home office. “A experiência acumulada ao longo de um ano de trabalho remoto por conta da pandemia precisa ser canalizada para a preservação do bem-estar na gestão do capital humano, a fim de manter o engajamento das pessoas com relação aos resultados da organização”, afirma Loyola.
Home office e o impacto no ESG
Mais do que uma estratégia para manter produtividade, o bem-estar dos colaboradores também faz parte dos pilares do chamado ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança), abordagem de gestão que, ao que tudo indica, veio para ficar e deve ser transversal a todas as ações das empresas. Nesse caso, a qualidade de vida dos colaboradores faria parte não só da governança, mas sobretudo da preocupação com o social. E, olha só que boa notícia: o home office pode sim ser menos danoso ao meio ambiente e, mantendo atenção em ações de representatividade, inclusão, proteção de dados, segurança da informação e transparência, pode também contribuir para a efetiva implementação do ESG nas empresas.
“Temos percebido aqui na Ecomunica que nossos clientes reforçaram os investimentos em comunicação interna desde o ano passado como forma de deixar os times mais entrosados e comunicar a cultura institucional para colaboradores que, muitas vezes, nunca pisaram na sede da empresa. Temos atuado junto a eles para construir estratégias que engajem o público interno e tornem o trabalho remoto menos ‘distante’, explica Ellen Bileski, CEO e sócia-fundadora da Ecomunica.
“Acredito que a maior parte das empresas que conseguiram funcionar com home office vão voltar para um modelo híbrido, em que o trabalho remoto ainda será muito presente e, por isso mesmo, a tendência é que esse protagonismo conquistado pela comunicação interna seja definitivo.”
(Ellen Bileski, CEO da Ecomunica)
Seja qual for o futuro das jornadas de trabalho — presenciais, online ou híbridas —, é importante que haja um investimento em treinamentos de times e gestores, para uma melhor adaptação (ou readaptação) ao modelo de trabalho escolhido. E, sem dúvida, adotar uma comunicação interna estratégica e realmente integrada é indispensável para manter os times alinhados aos valores da empresa, aos pilares do ESG e, principalmente, os colaboradores motivados e satisfeitos com esse novo (e às vezes estranho) cenário.